jueves, 24 de julio de 2008
Destino invertido
De todos nós.
O amor leva todos os caminhos
Como o mar traga os afogados
Para lugar nenhum.
Os passos incompletos,
Repletos de vibração e pensamento,
Foram retidos pelo amor.
Um pé parado no ar,
Sem saber si ir ou se voltar,
Sem saber onde o amor quer levar.
Amar a mãe, o amigo, o abrigo.
Amar a droga, a festa, o umbigo.
O amor é redemoinho.
Com sede e com medo do amor.
Fisgado numa rede colorida,
Bendita, maldita, bem vista, temida.
Sabe lá!
Amar, conhecer,
Práticas ocultas do homem
Mago e impostor.
Conhecer, o que é?
Será que uns sabem mais que os outros?
Sabem o que?
Pois é, amar é maior.
Conhecer coisas, alguém conhece,
Todo mundo conhece.
Quem ama igual, alguém ama?
Nós nos amamos, não é?
Cada amor próprio é um singular.
Nada é mais puro que o amor consciente
Presente na gente. Será?
Se eu sou uma salada frutas
Com pedaços doces e outros fétidos,
O que eu sou que eu amo?
Será que é o que amam em mim?
O que é o amor,
Onde é o fundo do universo,
Do que o homem é capaz,
Perguntas redemoiniacas!
Eu amo tanto,
Só não sei para quem.
Será que eu te amo por você,
Por mim
Ou por nós?
Eu amo tanto,
Só não sei se eu amo
Ou o amor me domina.
Eu amo tanto
Que não sei se estou mergulhado
No fundo do mar do amor
Prestes a me afogar.
Eu acho que eu amo tanto
Que eu fico tonto,
Sem saber se amo o suficiente,
Se meu amor é eficiente,
Se você sente
Ri
Mostrando os dentes.
O amor deve ser uma espécie de descarga elétrica
Magnética
Mística
Mágica
Mútua
Que possibilita o roce entre os corações
Entre si
E com o mundo.
miércoles, 9 de julio de 2008
O amor é como a inspiração, um detalhe se faz gigante aos olhos do amante, um olhar negro carbono brilha cual diamante.
Carís está em uns dias inspirados, ela que pescou essa analogía, eu só fiz espedaçar.
lunes, 30 de junio de 2008
Vou te falar de Jão Manga
Que chupa manga à vontade.
Da blusa rasga uma manga
E manga da sociedade.
E o Jão ama Rosa!
E uma rosa lhe dá toda tarde.
E se a mão lhe é calorosa...
E de rosa ele pinta a cidade!
Manga e Rosa, que alegria!
Se amando a luz do dia
Felizes pra eternidade.
Seja em poesia ou prosa,
Com gosto de manga-rosa,
Paixão sem realidade!
Não sei se a poesia é droga ou terapia.
Sem ela o que eu seria?
Uma mente embolada e uma barriga cheia?
O surfista que chama o caos de sereia?
Não sou viciado e nem sei se devia...
Não sei se é droga ou terapia.
Porque começar? Será que devia?
Parir mais outra, me embreagar de poesia.
Ei, você aí, por que não me guia?
Porque não assobia um dia desses,
Esse silêncio me incomoda.
Por que cê me esnoba?
Não vou parar,
Embreagado é bem mais fácil de tragar
O amargo do meu ser.
Sim!
Eu posso me chutar
E amar você!
Eu não vou me insultar se lhe dizer
Aquilo que ninguém me fez ouvir.
Vários pneus lambem pedras milenares.
Vai um dos meus para as zonas militares.
Vou eu pelos ares,
Me falta ar.
Arestas para aparar:
Quem sou eu depois que você me falar
Quem sou eu?
Sim, quem sou depois que você me falar
Que eu sou eu?
Dizer eu, eu sei.
O que é eu você não sabe,
Sabe por que?
Porque você não é eu, é você.
Quando você disser que eu sou eu,
Eu já não sou do jeito que eu sou em você.
O que está em você não sou eu,
É você refletido.
Eu sou um espelho, você também,
Como a gente pode saber quem é quem?
martes, 27 de mayo de 2008
Salada
Tirei areia do furico,
Comi sopa de letrinha e caguei livros!
Antes literatura de merda
Que vomitar arrogância.
Não tem ciência moderna
Que me tire a demência.
Nem cagando tenho paciência
Pra vaziar a cabeça!
Se meleca não tem cheiro de nariz,
Nem gosto de giz,
Me diz... O que cheirar para ser feliz?
O demagogo come o povo com pão e ovo!
O pobre chora pó e pedra.
Mas... Turbas são incontroláveis?
Nem mesmo num sonho remoto!
Já inventaram policia, TV e voto!
Dê mais orgia, Demagogia!
Nos dê ração, minha nação!
E liberdade!! (pra encher minha garagem)
E uma mulher!! (Pra meter onde quiser)
De olhos vermelhos e dentes podridos,
Eu sou viciado... me dá um trocado?
Bebi seu chorume, pedaços de tudo,
Tão podre ele eeraaaaa...
Morri moribundo!!
Urubu da cabeça branca,
Satanás que não comeu carniça,
Comeu o miolo dos baianos e achegados,
Por exemplo, Jorge Amado.
Belisca os olhos fisgados pela tela
E vem sugando o Spaghetti encefálico.
Também usa de minhoca a engenhoca estatal
Pra pescar os peixes grandes e fortalecer o curral.
A ambição é exclusiva do animal racional!
Os demônios fazem o inferno na terra
E morrem mais em paz que Jesus.
Enquanto isso rico é quem tem leite
Pra tomar no cuzcuz.
A maioria toma no cú sem enfeite,
Vivendo a treva e vendo a luz.
Apocalipse hoje do peão que não tem pão e nada em pus.
sábado, 24 de mayo de 2008
Porco Voador
Imagine um ser humano que, aos sete anos de idade biológica, passa a viver na rua e ser tratado como parte natural dela. Esse é Hermes, segundo sua mãe biológica, mas a mãe rua lhe deu o nome de Calado. Na rua não se fala muito, as conversas são “curtas e grossas”, em geral, mas Calado fazia jus ao nome fantasia que seus pares lhe deram, era o silêncio em pessoa, se comunicava quase sempre por atos, em geral, música.
“Só gosto de falar com a flauta.” “Aprendi no circo.” Estas foram as palavras que Calado mais repetiu na vida. E ele era moreno, cabelo liso estragado, sujo e meio claro por causa do sol, ninguém duvidava que ele realmente tivesse aprendido no circo. Não construía nenhuma conversa longa, sempre se distraía, como se perdido em pensamentos, e começava a tocar umas notas soltas. Muitas pessoas não gostavam de ficar perto dele por achá-lo maluco, calado demais. Outras gostavam da música, que acabava servindo de trilha sonora para longos momentos de confissão (sem muitas palavras, apenas momentos), afinal, os sons que saiam da boca dele não se preocupavam com nomes.
Tocava bem, não músicas muito conhecidas, mas sempre expressivas. Tristeza, solidão, felicidade, paz, impaciência, angústia, todas bem expressadas, como se interconectadas. Agradecia sempre as moedas com uma seqüência de três notas leves, como um passarinho.
Calado tinha um porquinho de colocar moedas, do tamanho de uma jaca média. Ninguém sabia. Ele escondia no meio das pedras da praia que surgiam quando a maré estava bem vazia. Dois sacos bastavam para que ele não enchesse d´água.
De todo dinheiro que Calado recebia durante a semana, tocando flauta nos ônibus, ele só gastava o dinheiro da comida e o da maconha. Quando a quantia em moedas economizadas alcançava 5 reais ele trocava por uma nota. Cada vez que maré vazia coincidia com uma madrugada sem chuva ele colocava todo o dinheiro economizado em forma de nota no porco, fumava um baseado bom para comemorar e dormir olhando as estrelas, se o movimento da rua lhe desse paz o suficiente para isso. “A vida na rua não lhe dá tanto tempo para olhar as estrelas quanto se imagina”, pensava Calado tocando Paz num ritmo que a noite fez.
Quando o porco já estava a negar notas, Calado comprou um sabonete, tomou um banho e lavou as roupas na beira do mar, de madrugada. Ás nove da manha, de barba bem limpa e com um cheiro de sabonete que alegrou algumas pessoas em seu caminho, rumou com o porquinho na rua, dentro de um saco de supermercado, seu novo lar. Calado rumou ao centro comercial da cidade, sem tocar flauta nesse dia, evitou os ônibus de costume para não causar estranhamento.
Ninguém estranhou sua entrada no prédio comercial, sua aparência era de um homem simples e bem limpo, apesar do corpo com jeito de usado. Subiu todas as escadas lentamente, cruzou só com um rapaz funcionário do prédio, que descia rápido as escadas. Ao chegar ao décimo quarto andar, saiu para o terraço, já conseguiu na primeira das alternativas. Ele tinha três prédios em vista, e gostou de conseguir no primeiro.
O vento era relativamente forte e ele percebeu que não conseguiria usar os fósforos. Foi até a lateral do terraço, olhou para baixo e sentiu que podia ver mais claramente do que imaginava. As pessoas iam se acumulando na calçada enquanto os carros passavam num fluxo continuo. O sinal vermelho para os carros durava 90 segundos.
Calado olhou durante uns 20 minutos, a quantidade de pessoas na rua aumentou, chegavam a serem 25 a esperar de cada lado da calçada, gerando um pequeno congestionamento, coisa bastante parecida com a que acontecia com os carros. Calado tirou o porco do saco, sentiu medo de que estivesse leve, mas não estava. Pouco tempo antes de o sinal fechar jogou porco de lá de cima, em direção a multidão.
“O porco, cheio de dinheiro, pensa que voa enquanto ruma aceleradamente para se destruir e levar consigo algum inocente. Os inocentes que não foram atingidos pulam com sentimento de alegria e surpresa ao verem, depois de um estrondo, uma nuvem de dinheiro se espalhar por sobre suas cabeças. O inocente atingido agoniza e morre no chão enquanto alguns poucos que estavam mais próximos tentam lhe ajudar.”. E assim pensa Calado.
Pablo Arruti (26/08/2006)
Sobe e desce de montanhas
Sobem grandes pedregulhos,
Que mais parecem cupinzeiros.
E meu pai sofre e é lesado,
Ele amava seu bem estar.
Todo nosso relevo foi mudado!
Se tudo a minha volta agora é pó
Não me sinto mais tão em casa,
É tanta gente agora que me sinto só.
No aconchego solitário ficamos.
As vezes até dançamos de felizes.
Como saber de onde o medo emerge?
Difícil saber o que me protege...
O que esta acontecendo?
Nada que já vi hoje vejo.
Morrendo está minha vista,
Mas não pelo fato de perdê-la,
Dói saber que não a usarei.
martes, 13 de mayo de 2008
No alto de uma montanha,
um salão de discursos e discussões.
O caminho até lá é muito grande e cansativo,
dessa forma, poucos sobem.
Porém, são bastante privilegiados
os que vêm a paisagem lá de cima.
E os discursos acabem sendo tão lindos e sinceros!
Ecoam pelo ar e depois de muito tempo
alcançam a humanidade lá embaixo.
Os homens são inconsciente platéia
Que se torna coro das mesmas divinas palavras
Durante gerações de gerações.
Que pena que a vida dos homens bons
É mais curta que vida dos sons.
Por isso os filósofos nunca ouvem as suas palavras
Cantadas em coro.
Paraíso
Recebido por diversos pais
Um bonito outro um pouco mais
Não existe homem ou animal
Tudo está no mesmo carnaval
O verde é no mais, bonzais gigantes
Gatos ratos brincam, com elefantes
A lua flerta o sol, do lado de cá
Quando ele vem chegando, foge pra lá
Este é um paraíso escondido
No meu pensamento está perdido
Penso nele antes de apagar
Durmo aqui acabo indo pra lá
Este paraíso está perdido
No meu pensamento escondido
Penso nele antes de ir pra lá
Durmo aqui acabo de apagar
Não existe a curva do horizonte
Não ha meios de se chegar lá
Fruta é do pé, água da fonte
Mas não é porque vou precisar
Mar de coqueirais, infinito
Relógios parados, sem sentido
Vivo uma aventura, a cada segundo
Pois quem pensa vive, aqui neste mundo
Este é um paraíso escondido
No meu pensamento está perdido
Penso nele antes de apagar
Durmo aqui acabo indo pra lá
Este paraíso está perdido
No meu pensamento escondido
Penso nele antes de ir pra lá
Durmo aqui acabo de apagar
Fiapos
Cabeludo...
Com a barba sempre por fazer!
Mas foi ela que não quis aparecer.
Só no queixo, mó desleixo pra crescer.
Cabeludo e com barba por fazer.
Curioso, inquieto, encucado,
Atirando pra todo lado,
Pensando só pra dizer:
Cabeludo e com barba por fazer!
Digo que quero ajudar
Sem saber
Se embaixo do cabelo vai brotar, vai nascer,
Um diferente de tudo, se mudo ou se vou morrer
Cabeludo e com barba por fazer.
Você sorri todo o tempo
Parece não ter porque
A causa do teu sorriso
É que o sorriso é você
Já te conheci sorrindo
Seu riso não sei do que
Parecendo estar fingindo
Sorrindo só preu lhe ver
Como pode ser tão lindo
Sorriso sem ter porque?
O riso vai te seguindo
Feliz por ser em você
E se eu me pego pensando
Quão bom foi te conhecer
Você me pega sorrindo
E logo me contamina
De riso só por você!
martes, 6 de mayo de 2008
O porco gordo peidando e a sardinha enlatada. (2007)
Estando sentado boa parte dos últimos 20 anos, Maurício adquiriu uma forma física bastante característica da maioria dos homens de negócios como ele: 120 quilos perfeitamente distribuídos entre o pescoço e o quadril, fora a cabeça (que cabeça!), braços e pernas! A três anos ele comprou um carro que considerava compatível a sua figura, além de confortável e, apesar dele não ligar muito para essas coisas, lindo: uma Cherokee. É verdade que o tamanho do carro incomodava um pouco no começo e os meninos de rua sempre corriam em direção a ele, pensando, coitados, que Maurício tinha dinheiro (“se eles soubessem quanto custa a gasolina do papai aqui não me pediriam um centavo”, Maurício costuma repetir), mas ele se sentia muito bem olhando tudo lá de cima. Vai e volta todos os dias do trabalho sozinho, escutando sua música.
Jesus de Jesus é pedreiro. Trabalha desde os 15 anos na construção civil. No momento ele está trabalhando na construção de um prédio na Barra, junto com outros 55 como ele, fora os patrões de várias patentes. Por coincidência, vejam só, também mora na Amaralina, a 500 metros edifício Mansão Reagan, ilustre moradia de Maurício. Ou seja, de segunda a sexta eles fazem o mesmo trajeto, apesar de que Jesus trabalha no sábado. Ele mora no Nordeste de Amaralina, para ser mais exato, numa casa de 10mX18m, uma das maiores e mais bem construídas da cercania, que caberia muito facilmente na sala de jantar de Maurício.
Jesus sempre trabalhou muito com o corpo, o que lhe fez forte e magro. Todo o dia pela manhã pega um ônibus com mais 50 pessoas e faz o trajeto em 1 hora, de pé. Paga 3,40 por dia para ir e vir, feliz por só precisar pegar um ônibus (o último trabalho eram 2, já houveram de três) e receber dinheiro referente ao transporte para dois.
Certo dia eu atravessava uma rua, o trânsito completamente engarrafado, quando vi, emparelhados, o ônibus de Jesus (ou o nosso ônibus que ele usava naquele momento) e a Cherokee de Maurício (comprada à vista com desconto). Tinha acabado de conversar com um amigo sobre poluição e pensei: “Puta que pariu...Aquele gordo sacana vai sozinho, de ar condicionado ligado, num carro que consome mais combústivel e emite mais poluição que a desgraça, enquanto aquelas 50 pessoas vão ultra-enlatadas naquele lata velha caindo aos pedaços. Que merda!”
Porque algumas pessoas, só porque são mais ricas, têm o direito comprar carros gigantes e luxuosos e contribuir muito mais com a poluição enquanto a grande maioria absoluta tem que aceitar ônibus superlotados? Porque não podem os ricos contribuir mais com o transporte de todos, já que eles são os mais favorecidos, para que todos tenham um transporte de qualidade média e a sociedade não destrua mais o mundo? É fato que quem trabalha mais ganha menos e quem tem mais trabalha menos.
Milhões de carros, cada vez mais pesados, estão sendo construídos nesse momento. Muitos deles vão ser usados por uma pessoa sozinha, que polui por 5. Continue se matando de trabalhar e compre um carrão de luxo, contribua você também com o diabo! Eu prefiro andar de ônibus. Tenho coragem de assumir as conseqüências de minha consciência. E você?
Transplante cerebral (2007)
Eu ainda não estava ciente daquele meu novo corpo, estava fora de mim e fora dele ainda. Os meus olhos, entreabertos, tremelicavam livres de minha imatura vontade sobre eles, na frente dos meus olhos parados em direção a uma parede azul pálido decorado com a circoncisione de Pollock, algo de Wagner entrando em meu ouvido, som no qual eu não conseguia me concentrar muito assim como a pintura. Ainda estava semi-vivo.
Depois que tive consciência de estar em frente a aquele quadro, me senti totalmente seguro. Ainda alucinado, misturando momentos de fantasia, umas tristezas bem rápidas, uma impaciência quanto ao tempo que parecia se multiplicar várias vezes quando eu começava a tentar medi-lo (fazendo a retrospectiva dos meus pensamentos, que sempre pareciam ser articulados dentro de círculos) e, nos momentos mais felizes, querendo relaxar dentro daquela sensação que nunca havia provado, o inebriante de se saber estranho no próprio corpo; o quadro fora acerto meu com os médicos, antes da operação, deveria ser o que me tiraria daquele sonho gigante no qual fui induzido a entrar pelos anestésicos. A música seria ligada por eles após a abertura de meus olhos; esse procedimento foi repetido, ao acordar dos meus últimos 30 sonos profundos naquele meu antigo corpo morto.
Depois de quinze minutos entraram minha mulher, minha mãe e meu médico no quarto. Foram dois dias de coma profundo, sonhos longos que se desfaziam e me desesperavam durante uns minutos antes de perceber-me enquanto sonhante e me lembrava pelo que estava passando. Ali tive a sensação de chorar de alegria, por alguns segundos, mas a falta de olhos e lágrimas me esfriavam o peito; a imagem não vale tanto quanto sentir uma gota quente escorrer pela cara. E eu não senti, e logo me acostumei com aqueles que estavam em suspense por conta de meu destino amalucado, tive pena deles sentirem pena de mim.
Comecei a sentir como se montanhas se movessem, paredes fossem trituradas entre mim e aquelas pálpebras. As minhas pálpebras passavam a serem minhas lentamente, crescendo de importância a cada nova sensação de controle sobre elas. Era necessário fazer muito esforço só para me manter neste exercício estranho, mas apesar do meu cansaço eu não era capaz de parar. Comecei por interferir no nível de tremelicação sobre elas: quanto mais concentração nos olhos, mais tremelicação. Com o tempo elas começaram a se abrir mais, o suficiente para que eu percebesse que as pálpebras eram o menor dos problemas, os olhos mortos quase que sem movimento eram a própria angustia em carne de olho. E se eu não agüentava mais tal exercício, as pálpebras baixavam, eu tinha que fazer outro esforço abissal, agora para fugir daquela imagem congelada e imaginar, abstrair o máximo possível.
Tudo foi muito difícil, mas o transplante foi um sucesso. Agora, em pé e funcionando quase que perfeitamente (fora alguns tics que não sei se herdei ou criei), posso dizer que sou normal. Não fosse esse pau que cresceu uns três centímetros e me dá vergonha de mim mesmo e essa sensação de, quando toco nele, estar tocando num pau que não é o meu... Ah! Não fossem esses dois detalhes, eu estaria ótimo!
sábado, 3 de mayo de 2008
Carta Parricída (2006)
Pai, mato-te hoje por revanche. Sim, não tenho outro motivo que esta revanche avessa. Revanche sim, por ter me tirado do nada, do vazio que eu era e que não me incomodava, e me colocado num mundo estranho; o presente que me deu foi esta ladeira para baixo que é a vida, rumo ao precipício negro da morte. Pai, espero assim devolver-te para o lugar de onde me tiraste.
Porque, pai, resolveste ter um filho? Gostavas da vida ou acreditavas que eu poderia servir-te de consolo, uma ocupação, um brinquedo para te distrair dessa desgraça que também havias recebido de um outro inconseqüente? Foi isto, pai? Confirma-se a minha suspeita de que, cansado desta vida, entediado ou mesmo triste, resolveste colocar um outro neste mesmo caminho tortuoso e assistir como se virava?
Pois foi o azar em pessoa que criaste. Não o azar meu, que nasci azar e por isso não me incomodo; azar seu. Porque, ao contrário de tu, não tenho noção de mal ou bom, bizarro ou comum. Tu, ao contrário, segue com esta máscara do bom e normal; por detrás o medo da consciência de ser também mal e bizarro lhe devora a lucidez dia a dia. Eu sou marcado pelo seu pedaço podre, sou a tua treva viva. Por isso lhe presenteio o fim; não sei o que será realmente de ti, mas acredito que não terás mais medo. Sou seu azar por ser louco, como dizem todos, e por acreditarem todos ser minha loucura culpa sua; até você acredita ser culpado. Já eu acredito que não seja assim, mas não sei como é em verdade e minhas hipóteses são apenas o que são, hipóteses; assim seguimos, eu perdido, tu sofrendo e todos a julgar-nos. Por isso mato-te pai, não por revanche, por piedade.
Revanche talvez seja por achar que toda paternidade é imposição e os homens costumam acreditar que uma imposição pode ser respondida com outra. E existirá melhor vingança à paternidade que tirar-la a força? Eu não acredito em vingança, em revanche; para mim parece como considerar a vida um jogo de perde-ganha entre os homens, e eu não enxergo dessa forma. Se a vida fosse um jogo, e talvez seja, todo ele se dá dentro de mim, os outros homens são peças do jogo e não jogadores. Mas isso não importa; chamei de revanche, de presente piedoso, mas na verdade pai, te mato por que assim quero, é uma vontade apenas, uma jogada.
Esta minha carta suicida é o certificado de tua morte como pai. Escrevo-a num momento de estranha ansiedade e por capricho deixei que as palavras se deitassem sem corretivos. Peço desculpa pela minha inconsistência, mas tu já estas acostumado. Minha loucura foi seu azar, seu brinquedo machucou-te, e agora disparo uma bala na cabeça na esperança de voltar a minha paz da pré-vida, da qual me tiraste, inconseqüente! Mas perdou e até tenho pena de ti, da tua inconseqüência e ingenuidade. Minha despedida da vida é tua morte enquanto pai. Adeus, não sofras mais, estou apenas voltando para onde não deveria ter saído.
miércoles, 30 de abril de 2008
Passou mas tá aqui
O que passa é tão importante
Quanto o motivo de suas brigas:
Que a ira não te comas a razão,
Que a sede não te nuble a vista.
Se quer andar para frente,
Use os retrovisores.
Talvez o preto e branco do passado
Lhe dê um futuro a cores.
A sabedoria do homem é perigosa,
Tende a enterrar o que se passa,
Florear o presente e dourar o que vem,
Ouro este composto por velhas vestes.
Acorde! O que vivemos é o passado,
O futuro não existe e nunca chega,
Só importa o que na historia é marcado,
Casaco velho que o novo corpo aconchega.
A Bala.alojada.
Era uma vez a Bala, perdida no mundo,
Com raiva, sem saber por que era uma bala.
Se somos tão civilizados, pra que ela serviria?
Pois um dia um homem feio fala:
-Pra mata, as balas, e pra guarda, um porta-malas.
E lá foi a Bala juntos com as outras cinco,
Morta de medo daquele cara pálida.
E o “pálida” se saiu sem dar pala,
Num traje de gala, fazer o serviço sem falha.
Uma na carótida, uma na tempora e três pelas costas,
Sem medo nem testemunhas, só a Bala,
Que sobrou levando a historia
Pra uma família feliz!
Eles moram na Gloria,
Mas o pai que ama seus filhos os protege.
E comprou mais uma caixa (outras balas),
Novinha, que não tinham a vida da Bala,
E torceu para não usa-las.
Mas a Bala ainda estava em sua aventura,
Vivendo escondida no armário tava fula,
A vida dura e o destino lhe deu uma mão,
Pequena é verdade, mais traria um tufão,
Deu um tiro no irmão, no pé, de troco de um soco.
Mas não foi culpa da Bala,
Novamente ficou no oco
E foi junto com arma entregue a policia.
Um pai arrependido, pelo bem da sua cria.
E a arma agora estava em ação,
Vivendo perigos em defesa da nação!
Mas que vida chata essa de bala de cop...
Fica dentro da arma vendo todo mundo voar...
Ela já queria voar...até pra se espatifar!
Um dia um coronel queria acabar um protesto:
Estudantes faziam um grande manifesto
E o nefasto não podia permitir.
E falir sua engenhoca governamental??
Mandou o general mandar ao major
Que mandasse os tenentes
Que mandassem os cabos
Acabar a brincadeira na porrada crua já!
E nossa amiga bala foi, já caquética,
Patética, sem querer mais voar.
Mais um maluco barbudo jogou uma pedra,
Merda, lá vai começar o inferno...
Mas o guarda deu um tiro pra cima,
Pra ver se o povo se acalmava,
E a bala se alojou numa arvore!!
Do lado de um ninho com três ovinhos
E agora ela estava feliz!
Residência fixa e vizinhos de bem!
Nem ela imaginava um futuro tão bom!
E lá de cima ela assistiu muitos protestos,
Assaltos, manifestos e até seqüestros,
Mas agora ela é só um enfeite
E ficou bem melhor,
Podia até ver um out-door!
lunes, 28 de abril de 2008
Saúde Mental
- Não é isso que sua mãe diz; e além disso, por acaso você é formado em medicina, mas precisamente psiquiatria?
- Não doutor. Desculpe.
- Sua mãe me diz que você tem tido hábitos estranhos ultimamente...
- Que hábitos?!
- Um deles, por exemplo, é esse tom de voz. Ela me disse que ultimamente você sempre conversa como se estivesse escondendo alguma coisa, sempre nervoso...
- Doutor, minha mãe é neurótica. E talvez minha reação seja derivada desse falar reticente que o senhor usou e que ela costuma usar quando está desconfiada, ou seja, sempre!
- Uhum...sei. Mas além disso ela me disse que você diversas vezes durante o dia abre a geladeira, olha, e fecha. Porque faz isso?
- Não sei. Todo mundo faz isso doutor! Quase todos os meus amigos fazem isso.
- Eu não faço. Bem, que ela me disse que você tem péssimas companhias, de péssimos hábitos...
- Que hábitos?!!
- Novamente. Sintoma recorrente. As minhas suspeitas estão se confirmando... Sua mãe não parece ser tão neurótica assim...
- Mas doutor! Que suspeitas os senhor pode ter? Eu sou normal! Normal!
- Acalme-se meu garoto. Eu sou seu amigo, só quero seu bem... E o seu problema é raro, porém de fácil tratamento...
- Tratamento?!!!!
Não sei o que...
- O que?
- Não Sei!!
- De que?!
- Não Sei!!! Quem sabe, sabe. Eu não sei, você sabe?
- Depende de que...
- O que é o que?
- Cê parece uma criança. pensa que eu sou besta? Qué cocê qué?
- O que é?! O que é?! não sei como te machuquei. Só falei que não sei. Eu gosto de criança, não gosto de besta. Eu gosto é de dança no meio da festa. Só não sei porque, minha dúvida está sempre além desse alguem quem sou.
jueves, 24 de abril de 2008
Fluido amor
Eu sou um alguém que se engana tanto
Que engana primeiro quem ama.
Portanto engano você, te amo, me odeio
Por não ser do jeito que você quiser.
É o que há.
Se a vida fosse feita com um manual do amor,
Onde a gente preferisse sempre a mesma cor,
Ficaríamos malucos no mar de amar.
Fica maluca, Fica a amar.
Fico a amar, Fico maluco.
Não sei amar mais pelo bem da sobrevivência:
Se eu me amasse demais me afogaria em mim,
Se eu te amasse demais afogaria nós dois,
A inundação do amor maior que qualquer arca,
Que preencheria o vácuo do universo,
Faria nula a distância entre todos os corpos interpenetrados
Pelo fluído, sim, fluidíssimo amor.
Somos feitos de forma que amamos, queremos,
E temos que saber medir, para não enlouquecer,
Para não perder o sentido entre eu e eu, eu e tu, nós e eles.
Obrigado por estar viva, permaneça assim o máximo de tempo possível.
Serei como o cultivador, farei crescer e florescer o nosso amor,
Nossa vida comum vai crescer, se fortalecer, integrar,
Vai nascer uma interseção entre o meu e o seu sonhar,
Basta saber regar, não desatender, não exagerar.
Ataque Aéreo
Luto contra um zangão
Que passando sentiu
O potente olor das minhas miles de flores,
Secando de cabeça para baixo,
Destinadas a temperar de loucura nossa colméia.
Por sorte tinha uma pasta na mão,
Com todos dever e lição,
Quando invadiu minha residência tomo na cabeça e caiu.
O zangão quando entrou não sorriu,
Caiu em minha cama, atontado, e tentou voar.
Ventei seu vôo pra lá, ele saiu pela janela que entrou.
Pensei “não é só muito-doido que gosta de flor,
Se aqui tivesse beija-flor ele viria me visitar”.
Natureza, bicha esperta, com alma de saci,
Que mistura tudo e leva para onde quer.
As formigas caminhando em baixo do meu pé;
Solitária dividindo com um menino a barriga de uma mulher;
Os vermes dos porcos comendo uns miolos qualquer.
sábado, 19 de abril de 2008
Cabeça sem SAP
Sem perder as oportunidades?
Talvez tudo esteja dependendo,
E não exista um ou outro.
Até porque se impedir de ultrapassar
Uma linha imaginaria, e às vezes flutuante,
Nunca terás um nível seguro, satisfeito,
Ou um exagero completo.
Sentimentos são infinitos, incontáveis.
Não se sabe quanto nós somos maleáveis,
Infalíveis dentro da falha maior:
Desde dez doces a uma lufada de Dior.
Por isso não se limita o próximo.
Só quem pode, e às vezes até erra,
É o próprio ser que se extravasa.
Siga em frente, segure a ti e aos teus.
Quando quem pensa, pensa,
Nem ele diz seu pensar.
Quando saber do outro tenta,
A certeza é fracassar.
Abobalhado
tampe os ouvidos;
Não é nada!
E agora que morri
Nada mais me consome,
Sem ser defunto nem homem,
Nem sequer sou nada-ser.
Não é saúde nem doença,
O não faz a diferença.
Pois quando sou eu posso ser,
Mas se sou nada o não vai aparecer
Passou a ilusão da vida,
Sobrou a verdade do nada.
Sobrou a verdade da vida,
Passou a ilusão do nada.
miércoles, 16 de abril de 2008
Há mar
Navegar é preciso
Quando mar eres tu.
Me afogar necessito
Em teu corpo nu.
Naufragar é bendito,
Te tragar gota a gota,
Sou um peixe esquisito
Que se mata pela boca.
Tua boca, saliva,
Tuas águas, meu mar.
Como loca me alisa
Para logo arranhar.
Teus dentes, tuas unhas,
Minhas chagas de amor.
Teus quentes gemidos
No pé do ouvido
Na altura que for.
Tua cor, tuas cores,
Minha flor de sabores,
Odores do paraíso.
Tua dor, minhas dores,
Um louvor aos horrores,
Curar-te preciso.
Dentro de ti respiro
E espero não te esgotar.
Se queres me retiro,
Não quero te incomodar.
Meu derradeiro suspiro
Sorrindo a te olhar.
Teu corpo, atmosfera.
Teu gosto, meu vício.
Te como feito pantera,
desconheço desperdício.
Arvoredo
E somos poucos
O que parece ruim
É ruim
Mas achamos ótimo
Trilhar a busca
Autoconhecer-se
Cheios de referências
Sem objetivos
Repletos de não-querer
Tem alguém aí?
Pergunto-me eu
Pergunta-se um amigo
Estamos perdidos
Mas temos a busca
Transpor o oceano
Galgar o cume
Pular, afogar, nascer de novo
Apenas começamos
E começar é difícil
Ainda mais quando só
Por dentro
Estômago de galinha
Sem saber, temendo, querendo
Não somos perdidos
Estamos, estivemos
É o princípio
É importante estar perdido
Daqui partiremos
Olhos arregalados
Mãos suadas
Onde? Onde?
Chegaremos
Nem quando nem como
Perdidos
Estaremos lá
(João Campos) inspirada na ultima poesia minha!
lunes, 14 de abril de 2008
De me meter a me desenbolar.
Meu conflito é maior que eu,
Não cabe na visão, acaba na imensidão.
De verdade! Que triste essa minha vontade
De me conhecer! Que fazer? Chorar?
Não posso gritar, sou cachorro domesticado,
Gato que só mija na areia, de liberdade alheia.
Ninguém quer me escutar, é fácil compreender,
Se nem eu tenho paciência pra me explicar...
É demência, é mentira, é incompetência, seja o que for,
Seja eu quem for, tô enforcado, fodido, agoniado.
Sorrio, quase sempre. Casa da paz é o sorriso quem faz.
Rima mais quem coleciona rima na gaveta de atrás.
Brincar de trincar cravos na prateleira é brincadeira,
Maneira de passar o tempo com um treco no trampo.
Sorrio até com feridas infantis, inseridas numa vida como eu quis.
Falo sozinho comigo mesmo:
Tem alguém ai? De verdade?
viernes, 11 de abril de 2008
jueves, 10 de abril de 2008
O homem deseja
A eternidade ou a morte.
Forte é essa última,
Mas tem a fé, o axé e a sorte,
Café no pote sem moer,
Sem plantar, molhar,
Sem colher, beber,
Bebê de planta sem nascer,
É a elétrica liberdade!
Menor que o amor,
Maior que a maldade,
É a liberdade!
Meu coração bate sem perguntar.
Se ta untado de saudade tem saúde e dói.
Não tem sono, dono,
Não tem rumo a não ser parar.
Separado da minha vontade
Explode sem avisar:
Faz-me tremer, gemer, calar.
Planto sementes,
Escrevo livros
E brotam amigos!
Ser animado sou,
Tenho data de validade,
Caducarei,
Caminhando cairei
Pra levantado ser.
Ou enterrado, moído,
Comido ou incinerado,
Não importa,
Não baterei mais na sua porta.
Mas é que se dou meu coração
Não serei esquecido,
Mantendo cada irmão aquecido
Por dentro como por fora me esquenta o tecido.
É o que ele tem de comer.
Tudo que consome
Lhe possibilita ser.
Então cuidado ao consumir
Você vai ter que assumir
Se o seu consumo vai deixar alguém sem dormir.
Você vai ter
Que acordar,
Ou parar de mentir que quer ver o mundo mudar!
A gente tem
Que se entender,
Se é verdade que a vida não é só pra morrer!
Comecei bebendo daquele jeito no bar,
Depois de uma carreira consegui capotar!
Voou pedaço pra todo lado!
E eu lá dentro?
Acabado!
Sempre dizia que era da paz,
Levei dois comigo...
Minha inexistência é de lamentar,
Levei dois comigo...
Que azar!
Comecei bebendo daquele jeito no bar,
Depois de uma carreira consegui capotar!
Você vai ter
Que acordar,
Ou parar de mentir que quer ver o mundo mudar!
A gente tem
Que se entender,
Se é verdade que a vida não é só pra morrer!
sábado, 5 de abril de 2008
Peito Vazio
martes, 1 de abril de 2008
Só sozinho me esquadrinho
Conheço meu preço, meus vícios,
Minhas virtudes de verdade.
Só sozinho tenho coragem
De assumir nula vontade
De viver nesse mundo de saudade.
Me pego mentindo nas primeiras linhas,
Coitadas, sozinhas não conseguem evitar.
Meu mundo é saudade,
Maldade minha dizer
Que não gostaria viver
Nesse mundo, maldade.
Eu gosto, gozo, sozinho
Te amo sempre mais um pouquinho.
A esperança é natimorta,
Mas amizade é o que importa,
Em cada porta te encontro
Dentro do pensamento,
Pronto pra me lembrar de algo remoto,
Pra meu coração bater como o motor de uma moto.
Me suicidaria se não fosse morrer de qualquer forma.
Viver sozinho eternamente é a pior dor que ninguém sente.
Penso pra frente, não interprete mal minha confusão latente.
Mas, pra trás, foi meu parto, mais pra frente de muita gente é um infarto;
Por isso sozinho no quarto, com você, meu amigo, meu sentimento reparto:
Viver sem amar é como perder sem jogar,
Morrer amando é como perder jogando,
Eterno será meu instante por ser na vida um amante!
As Profecias
Composição: Raul Seixas / Paulo Coelho
Tem dias que a gente se sente
Um pouco, talvez, menos gente
Um dia daqueles sem graça
De chuva cair na vidraça
Um dia qualquer sem pensar
Sentindo o futuro no ar
O ar, carregado sutil
Um dia de maio ou abril
Sem qualquer amigo do lado
Sozinho em silêncio calado
Com uma pergunta na alma
Por que nessa tarde tão calma
O tempo parece parado?
Está em qualquer profecia
Dos sábios que viram o futuro,
Dos loucos que escrevem no muro.
Das teias do sonho remoto
Estouro, explosão, maremoto.
A chama da guerra acesa,
A fome sentada na mesa.
O copo com álcool no bar,
O anjo surgindo no mar.
Os selos de fogo, o eclipse,
Os símbolos do apocalipse.
Os séculos de Nostradamus,
A fuga geral dos ciganos.
Está em qualquer profecia
Que o mundo se acaba um dia.
Um gosto azedo na boca,
A moça que sonha, a louca.
O homem que quer mas se esquece,
O mundo dá ou do desce.
Está em qualquer profecia
Que o mundo se acaba um dia.
Sem fogo, sem sangue, sem ás
O mundo dos nossos ancestrais.
Acaba sem guerra mortais
Sem glorias de Mártir ferido
Sem um estrondo, mas com um gemido.
Os selos de fogo, o eclipse
Os símbolo do apocalipse
A fuga geral do ciganos
Os séculos de Nostradamus.
Está em qualquer profecia
Que o mundo se acaba um dia (3x)
Um dia...
Sim, sim, sim...
lunes, 31 de marzo de 2008
El y yo, el o yo, el soy yo.
No hace falta que me des un motivo
Para que desconfie de ti.
Me mantendré siempre activo
A te perseguir.
No hace falta que huyas,
Intentando dormir,
No hace falta que escuches
Para oír a mí.
Yo estaré escondido
En la hora que despiertes,
Buscarme es tiempo perdido,
No dejaré que te acerques.
Yo estoy en tu,
Desnudo o vestido,
Femenina o masculino,
Pero no soy como tu,
A mi estas sometido.
Sin mi no eres nada
Pero yo no soy nada más.
Tu lenguaje contra mi es impotente,
No te vale que me muestre los dientes,
Conmigo no tendrás paz.
Yo soy fruto de ti,
Te hago e no digo como,
¿Como puede ser?
¿Como el pensamiento puede ser mío
Se parece mas una tormenta que un río?
Yo y el estamos de acuerdo que no nos conocemos bien.
domingo, 30 de marzo de 2008
Eu sei que você não fode,
Eu sei que você cospe ou engole o catarro,
Eu sei que você se coça em cada buraco.
E daí?
Você daí e eu daqui.
Hoje eu acordei no meio do monte,
De verdade, um pueblo de 50 casas.
Se eu soubesse pintar como Van Gogh,
Quem sabe...
Eu pensei em você, pensei em mim,
Cê sabe... Não tem tamanho para saudade.
Perguntaram-me se eu tenho métrica,
Se minha poesia tem cuidado,
Talvez tenha, outra vez não...
Digo isso pra não dizer que não sei,
Porque tenho vergonha de dizer que não sei o que é métrica,
O que é a poesia.
Costumo conversar demais, falar demais e não comer.
A comida esfria, ninguém concorda comigo,
Eu discordo de mim e perco a fome.
Geralmente uso argumentos completamente alheios às conversações.
Quase ninguém percebe, só um primo que está me conhecendo.
Todas regras têm exceções? Então ninguém desconfiava da verdade absoluta.
Ninguém não! Ninguém não! Tem que haver alguma exceção!
É uma regra que “toda regra tem uma exceção”?
Então “alguma regra não tem nenhuma exceção”
É exceção a essa regra. Contradição!
Ninguém desconfiava da verdade absoluta.
viernes, 28 de marzo de 2008
Tesão
Tesão
Deixar a água morna escorrer pelo corpo
É uma das maiores fontes de prazer.
Tem um país que é proibido sentir o escorrer,
E quem sentir ta perdido, pode crê.
Um casal fazendo sexo ao lado do parquinho,
Crianças de doze anos propõem um bacanal,
Mais a chuva vem caindo de mansinho,
Alerta geral!
“O dia ta muito quente, a chuva dá prazer,
Noutro dia a gente um bacanal vai fazer...”
A policia chega, rápido,
Coberta da cabeça aos pés,
Parecem múmias modernas
Executando o viés.
Trazem guarda-chuvas gigantes
Em cima de caminhões,
É a tática desenvolvida
Nos últimos verões.
Um casal beija na boca
Perdidos no infinito da paixão.
A água lhes molha o corpo
Aumentando a conexão,
Escorre pelo corpo
E acaba erodindo o chão,
Se perfuma no corpo
E se evapora no ar.
O morto que sente o cheiro
Do caixão vai levantar,
Ou das cinzas que é formado
Pode até se reintegrar,
E quando acabar o cheiro
Vai querer se suicidar.
E a esse casal demoníaco ninguém pode se aproximar.
Eles são mais radiativos que uma bomba nuclear.
As crianças que os vêm começam a se chupar,
As senhoras, excitadas, podem viver sem respirar,
Num orgasmo eterno que faz a terra vibrar.
jueves, 27 de marzo de 2008
Defecação, Contemplação e Amor.
Depois de comer,
De barriga cheia esvazio a mente,
Que enchi de fumaça púrpura.
Sou louco ou sou doente,
Se sou são, não sei.
O filho da puta que inventou a curiosidade
Fez o trabalho bem feito, sem piedade.
Sou feio e bonito porque tenho vontade
De conhecer ao infinito a metade da metade.
O escrever me pede um sentido
Do porque de eu não parar de escrever;
Fico imediatamente perdido,
Já não sei o que fazer,
E assim escrevendo fico,
Por não saber responder.
Essa conversa ta furada,
De escrever e não saber.
Vou tentar outra jogada,
Preciso me entreter.
Mentira, carta jogada
Fora das leis do meu ser.
Eu fico aqui sem fazer nada
E sempre tendo o que fazer,
Depois venho com essa manjada
História de não saber.
Me fantasio de poeta
Só pra disfarçar meu vagabundear.
E assim vou passando os dias,
Sozinho, sem você.
Antes, quando eu era idiota,
Sempre tinha alguém pra me dizer.
Agora idiota sigo, sem saber o que fazer,
Mentindo para mim mesmo
Com o paradoxal e próprio não saber.
Minto, reminto, e ainda lhe meto o minto,
Para vomitar meu ser.
E sai essa porcaria toda
Que você acaba de ler.
Se você não lê, melhor,
Não te valeria conhecer
Esse meu eu vagabundo, sozinho,
Na rua sem a lua para ver.
Tinha pensado em parar,
Mas já vejo o sol nascer.
Vale a pena recomeçar,
Se não agora, depois.
Seja com solidão no ar,
Ou aquele puro cheiro de nós dois.
A saudade fez amanhecer
A minha face oculta, apaixonada,
Por nada mais que uma existência imperfeita
Feita de carne e osso como eu,
Mas com jeito especial
Que faz da minha vida algo muito mais normal.
Eu que sou o egoísta maior que conheço!
Eu que não tenho dó e nada de bom mereço!
Fui santificado pelo meu divino berço,
E beijei uma deusa, por ela conheço
O valor daquele amor que não tem preço.
Tenho orgulho do que faço
Porque mesmo quando me embaraço
Numa rima só, não perco o fio da meada
E vou desatando o nó.
O problema de andar na corda bamba
É quando a gente anda, anda,
E nunca chega o final.
A gente sabe que o fim é cair
No precipício fatal.
O esforço de escrever
Já está me fazendo mal.
É melhor eu parar, tchau.
miércoles, 26 de marzo de 2008
Pulo, pulo (Jorge Ben - Força Bruta - 1970)
E não caio
Pulo, pulo, pulo
Se eu caio
Eu caio dentro do balaio
De flores do meu amor
O balaio tem rosas
Tem cravos, margaridas
Tulipas, hortências
Lírios, violetas, sempre-vivas
Brinco de princesa, orquídeas, jasmins
Tem amor perfeito, é o que ela é pra mim
Pulo, pulo, pulo
E não caio
Pulo, pulo, pulo
Se eu caio
Eu caio dentro do balaio
De flores do meu amor
Saboroso?
O homem é o predador do homem,
Ou seu próprio parasita, se assim o prefere.
Imagine o mundo com 6 bilhões de leões,
Que ademais querem erguer uma estatua em outro planeta,
Para honrar a sua nobreza,
E alimentam as turbinas dos foguetes
Com filhotes de leões famintos.
Uma espécie de sucção energética, cultural,
É o natural no meio humano, espécie racional.
No subsolo da disney trabalham escravos de todo o mundo,
Ou talvez só do terceiro mundo de cada nação.
A máquina estatal na Bahia tem por combustível sangue de negro,
Comando branco e como produto exploração racial.
A televisão aliena e transforma cérebros criativos em cativos,
O sistema está codificado de forma que segue a escravidão
Com uma potente imagem de harmonia e irmandade.
O caçador do homem é o próprio homem,
A caçada é monótona,
Uma vida não vê uma manada sendo abatida,
Consumida ou descartada,
Uma vida vale muito mais não conhece nada.
Os homens competiram tanto
Para ver quem fazia uma arapuca maior,
Que o mundo ta cheio de arapuca
E ta todo mundo junto, na pior.
O planeta como um cachorro sacoleja,
Como já dizia Raul,
E na ultima sacolejada do cachorro
Vai voar de um por um.
Seja pelas arapuca ou seja por que sacoleja,
A humanidade pratica autofagia,
Mãeterrafagia, e como a vovó já dizia,
“Já ta na minha hora, pena que eu não vou ver.”
martes, 25 de marzo de 2008
Soledad (Primavera 08)
Me siento mal, me sienta todo mal,
Sin ti.
No tengo hambre, pero de ti si.
Cuando entra el aire quiere salir.
El agua sabe mal, no sabe igual.
Estoy mareado e no tengo mi mar.
Estoy lúcido sin ti para enloquecerme.
Estoy en el frío sin ti que me caliente.
¿Que hago sin ti para sonreír?
El sol no sale por aquí,
Estará mucho más feliz allá,
Donde puede te mirar.
Luna linda,
Vuelve, pues mi noche es solo tiniebla y miedo,
Sin ti a mi lado.
Mi puerto seguro, donde la vida tiene sentido,
Donde la tempestad casi no hace daño.
Me siento otra vez niño, pero ahora estoy sólo.
Tengo un centenar de amigos invisibles,
Quedo todo el día en el medio de sombras,
Intentando comunicarme, pero tienen frío;
Las sombras son amigos débiles.
Mis amigos invisibles solo pueden susurrar,
E cuando hacen esculpen en mi oído.
Estoy dolido, no puedo mas negar.
Pero me cuerpo sigue mucho mucho vivo,
Sé que puede mucho tiempo aguantar.
lunes, 24 de marzo de 2008
Uma poesia de mentira
Eu adoro a mentira.
O pior é que é uma fé cega, idolatria, um vício,
Eu sei que tenho que parar, mas me sinto incapaz.
Contribui muito que eu não conheça ninguém sincero.
Ouvir mentiras é como sentir o cheiro da fumaça,
O barulho da pedra do isqueiro riscando,
É uma fagulha para minha imaginação viciada.
Se falando necessito uma lembrança que não me vem,
Invento e sigo o discurso, nisso que mal tem?
Se me sinto desafiado por um sorriso maroto, safado,
Que não assume a extrema vontade de roçar o corpo suado,
Que quer ouvir antes uma historia no pé do ouvido grudado,
Divirto-me criando histórias onde a moral é o pecado,
E se ela pedir com carinho, só me olhando de ladinho,
Digo-me apaixonado.
Mas isso tudo é detalhe, perto da mentira maior,
Que ouço dentro de mim e não conheço o autor.
Ela me diz que eu estou no caminho certo,
Mas eu não sei aonde vou.
Diz-me que nada mudou,
Mas eu não vejo tudo e nada é o mar aberto,
Com ondas inumeráveis, nunca imóveis,
Nada estático.
De vez em quando penso que o culpado é o pensamento.
Lamento, mas aceito, o fardo é finito.
Mas seria talvez bonito dizer eu te amo,
Confiado que este “eu” não está mentindo,
Conhecendo o amor, seu valor e sentido.
Lendo esta poesia, não me surpreende que pareça falsa,
Mentirosa, fingida, forçada, artificial.
Não se surpreenda também, animal!
Eu sou mentiroso! Eu não digo a verdade!
Dirão alguns: - Mentira! Mentira!
Concordo, direi eu, sinceramente.
A continuação da poesia passada, talvez perca a lógica, melhor.
Quem não sabe pode ser chamado fera,
Quem não sabe o que é, fere, se ferra.
Nossa raça é toda igual, temos que nos matar
Por um ideal.
E aqui não me refiro só aos fortes vira-latas,
Infectados de esgoto a céu aberto.
Aqui me refiro àqueles como eu,
Sendo cada um um eu concreto.
Todos nós mataríamos por não saber o valor das coisas,
Ou se as coisas realmente têm valor,
E por isso nos matamos, sem saber, sem querer,
Querendo, sabendo, planejando e muito mais,
Pois somos criativos.
Sou fera, quem dera fosse uma formiga,
Em um dia, uma vida organizada.
Se uma abelha, nunca a rainha,
Longeva e responsabilizada.
Sou fera e ainda por cima sou covarde.
Ardo no infernal prazer de me sentir o homem mais rico do mundo.
Pra dizer como me acho normal, acabo sendo profundo, e no fundo
No fundo eu confundo.
Infelizmente existe muita gente, nem todos gostam da mesma cor,
Alguns plantam a raiva, outros plantam amigos e colhem amor.
Nós somos feitos de terra, nossa mãe terra, essa matéria em que tudo brotou,
Não existe homem que a terra não pariu e não tragou.
A profundeza da terra foi a primeira casa que Deus morou.
Minha fortuna são os amigos que da terra brotou.
Alguns eu plantei, outros ela me regalou.
De qualquer maneira cabe a mim regar,
Eles são meu alimento, minha água, meu sangue, meu ar.
domingo, 23 de marzo de 2008
Que rei sou eu.(inacabada)
Fui batizado com pouca água.
Nossa senhora me esqueceu.
Minha fé é uma gota.
Meu Deus sou eu.
Sou rico, cada amigo vale por mil.
Não tenho medo do inferno,
Meu céu é anil.
Ninguém pode me roubar,
O que tenho quer ser meu.
Meu objetivo é a morte
E meu rei sou eu.
Ouço alguém me dizer
Que meus olhos só vêm meu umbigo,
Que se eu continuar assim estou perdido,
Que o mundo é muito maior
E eu tenho muito que aprender.
Quem dera...
Se aprender eu pudesse,
Se alguma esperança me restasse,
Se por um passe de mágica tudo fosse diferente;
Quem dera se eu fosse gente.
Eu não sei se sou aquele ser que você espera,
E o que não sabe pode ser chamado fera.
viernes, 21 de marzo de 2008
O que não tem fim não tem título.
Escrevo sem o meu corpo querer,
Pois me encantei pelo dizer.
Encanto ou maldição?
A mesma contradição
Do bater do coração.
O que é o homem,
Um monte de carne, osso e impulsos elétricos?
A humanidade, um crescer agonizante frenético?
As palavras, um brinquedo, um direito, um objeto?
Onde eu quero chegar, posso chegar sem saber responder?
Não sei responder, e o pior é que isso não é resposta que se dê.
Afirmar sem firmamento, viver é gozar um lamento,
Tanto quanto mais atento ao fim irreal e concreto.
Porque sempre acabo falando da morte,
Talvez um dia acabe morto.
Será que o morto sabe que morreu?
Se não, a morte existe só pra quem vive?
Morrer e viver, o que é o que é?
Cinco pontos finais, oito interrogações,
Isso merece uma exclamação!
Não! Duas, virgulas são os quebra-molas.
Mas será o benedito,
Coitado do mal dito benedito,
Sempre chamado quando algo dá errado.
Existe um fim de uma poesia sem finalidade?
Sim, a minha vontade.
sábado, 15 de marzo de 2008
Perece quando morre.
Tudo em mim faz tudo isso ao mesmo tempo,
Nada faz isso ao mesmo tempo.
Eu e nada, mesma coisa.
Todos são objetos,
mas algum em tudo nada como eu.
E assim me aperto,
Tentando me olhar de perto,
Com pressa porque pereço,
Como medo de desconcentrar
Na abstração do ponto certo.
O suspiro final, afinal, é um suspiro igual,
E como tal eu respiro sem medo do suspiro final.
No fim do meu mundo,
Que é igual ao fim do mundo todo de todo mundo,
Quero pensar que é igual o ar e eu, vai e volta,
Nunca o mesmo e sempre igual.
Banal! Eu e nada a mesma coisa,
Nada mal.
Pelas linhas dessa poesia toda letra,
Com um peixe,
Nada mal.
Na geometria nauseante do mar se
Nada mal.
Sou nada, quando morrer serei tudo, dá igual.
O pedaço gigante de pedra não existe mais,
Mas ali tem uma praia, um cais.
Ali o que era pedra agora é tudo e nada mais.
sábado, 12 de enero de 2008
Você me obriga a carregar pedra... O dia inteiro!
Você me induz a comer merda por muito dinheiro.
Ce prostitui minha filha e vicia meus filhos,
Mas meu triunfo é algum dos seus meninos.
Minha mãe é cozinha, limpa e conhece o palácio inteiro,
Seus meninos já pertencem ao meu reino!
Você diz pra me calar se não vô pra cadeia,
Mas arreia pois a cobra ta fumando,
Meu menino mesmo preso
Com os seus tão conversando!
Essa lei cega descarada só dá ouvido a rapaziada antiga.
Diga-me quando não foi assim?!!
Quando o bandido que faz as armas foi preso?
E as maquinas que só dão lucro e desemprego?
Lá em salvador, quantos juízes negros?
E na cadeia que a situação é preta só podia estar ruim!
E logo logo tudo muda ou é o fim!
E logo logo tudo muda ou é o fim!